sexta-feira, 18 de setembro de 2009

[Metamorfose]



Vejo-me fora de mim
Num espelho coberto de água.
Respiro nos intervalos da densidade
De mares negros e distantes.
O meu corpo sonha e a minha mente
Consente o desafio. Sou ondas.
Suspiros encapelados na clausura
De uma serenidade mundana.
Sou um tédio, uma cadência infinda
E revejo-me desnudada sob grãos finos.
Grãos que se perdem na pele para serem
Encontrados na plenitude de mais um luar.
Tenho esta imagem, uma e outra vez,
Como uma visita espectral
Que (nos) assoma na masmorra da suposta lucidez.
Como não sou capaz de desenhar o contraste
Da água a erodir cada membro do corpo
Ou até exacerbar com o carvão do lápis
O êxtase das correntes marítimas
Quando brandamente conspiram uma sentença,
Somente me resta pincelar com as palavras.
Mesmo que este retrato seja incipiente,
Incompleto, negligente à realidade que coabita em mim.
Sei, por analogia circunstancial,
Que submersa nas águas
Agito asas inexistentes,
Como vogasse sobre uma horda anónima
E fosse vigilante atenta: constelação por descobrir.